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História: Entenda a Crise Entre Índios Ka'apor e Madeireiros de Guilhermenses

Saíram essa semana no site da Reuters, do G1, R7, Portal Terra, Estadão, e muitas outras mídias do Brasil e do nosso estado, as imagens do fotógrafo Lunaé Parracho da Reuters quando cobria a guerra dos índios contra os madeireiros guilhermenses. Na ocasião mais ou menos uma dezenas de homens foram presos e torturados na estrada de acesso à aldeia Ka'apor.

Leia a matéria completa aqui.

A crise entre Índios Ka'apor e Madeireiros que atinge Centro do Guilherme, notificadas pelo notório trabalho do fotógrafo da agência britânica já dua alguns anos. Sabe-se que a extração de madeiras em Centro do Guilherme já ultrapassa a casa da três décadas.

Tudo começou em meados dos anos 80 quando um homem chamado  Bruno, do sul do Brasil, trouxe os primeiros caminhões madeireiros para a cidade. Seu objetivo era bem claro, obter o máximo de lucro com a extração que aparentava no início legal. O mesmo senhor Bruno também foi o responsável pela abertura e até manutenção das principais estradas da região, que antes eram apenas ramais. Por isso muitas vezes ele era confundido com um benfeitor.

Mais tarde, vendo o sucesso do pioneiro da extração de Bruno, homens como Belimário e outros madeireiros da região colocaram seus caminhões à transportar madeira de forma exaustiva. A princípio a extração se dava apenas nos terrenos reconhecidos pela COLONE, e, já nos anos 90 os mesmos começaram a pagar os donos de lotes pela madeira, ainda que um preço baixíssimo, diante dos lucros finais obtidos.

O fato é que já nos anos 80 a população local já se preocupava com a invasão estrangeira de madeireiros e com a saída precoce da riqueza natural. Por isso criaram uma cooperativa de comércio de produtos locais. Reinava a união entre o povo e os madeireiros quebravam a rotina. Essa mesma cooperativa, mais tarde foi a responsável por trazer a primeira serraria comunitária, com máquinas razoáveis e até madeireiros, os famosos "mondrongos". Mas a concorrência com os madeireiros ilegais e a ganância de alguns cooperou para o fracasso da associação.

Ao longo dos anos 80 e 90 o senhor Bruno só enriqueceu com a madeira tirada do seio da floresta guilhermense. Nesses 30 anos a paisagem da beira da estrada, em função das queimadas de roças e de fazendas, mudou drasticamente.

O monopólio da madeira deixou de existir quando no início do século XXI a madeira dos terrenos colonizados acabaram quase que totalmente totalmente. Foi aí que, na brecha da concorrência, madeireiros locais passaram a entrar indiscriminadamente na mata dos índios. A princípio para caçar, depois para sondar uma investida na madeira e depois com caminhões, serradores e catraqueiros, fazendo ramais e serrando toda madeira de lei que encontravam. Logo que descobriram, os índios chegaram a correr com os madeireiros, mas com a aproximação posterior, passaram a negociar a mesma. A ganância por mais dinheiro fez com que eles vendessem mais e mais madeira, chamassem mais a atenção dos madeireiros, inclusive de cidades distantes.

Antes os índios sequer tinham contato com a população branca. Depois eles passaram a ser quase que totalmente dependentes deles. O primeiro contato registrado se deu quando um homem, encontrou durante uma caçada na Quadra Araribóia , um grupo de índios, que o fez correr tanto que deixou as sandálias e seu material de caça para trás, ainda nos anos 80.

Uma vez que os índios passaram a cooperar, mais e mais madeireiros passaram a invadir e derrubar a floresta e assustar os animais. Sem a noção que os brancos tem, os índios quase não percebiam que os animais estavam se afastando. Hoje quase não se encontra mais tanta madeira assim e animais, principalmente.

Além disso, o contato permanente com os brancos foi minando a cultura local. Não era possível sequer fazer suas festividades tradicionais, sem que houvesse a presença de brancos no local por vários motivos. Com isso ainda pesa o fato de tanto contato levar doenças para a tribo, e, como relatou o fotógrafo, sedução de índias e intimidação de alguns que não concordavam com a investida na madeira.  

Por várias vezes os índios tentaram o rompimento com os madeireiros. Seja contatando as autoridades ou as forças armadas, seja através da guerra, como aconteceu agora e em outras três oportunidades. Nas primeiras houve vítimas fatais, caso do Sr. Badogue, madeireiro morto no início do século e outros, não identificados por esta matéria, já em 2012.

Houve períodos em que Centro do Guilherme parecia estar sitiada por madeireiros. Especialmente por madeireiros de outras cidades e até de outros estados. Vieram do Pará em 2011 um número considerável de madeireiros expulsos pelo mesmo motivo da cidade de Nova Esperança do Piriá - PA e daquela região.

Quanto mais concorrência na área mais os madeireiros se tornavam ousados, indo mais e mais longe floresta a dentro, investindo mais caro e negociando com os índios de forma quase que insustentável. Isso também deu poder de compra e soberba aos indígenas. Os mesmos chegavam a comprar motos de última geração e carros como uma S10 em péssimo estado de conservação do motor. Os índios eram constantemente enganados pelos brancos. No caso do carro ainda o enganavam na venda de peças e serviços.
Os madeireiros ainda viciaram os índios a pedir dinheiro para os mesmos. Quase todo dia tinha um grupo a frente da casa de um madeireiro local, que por sua vez não gostava da situação.

O fato é que foi se desgastando a relação dos dois grupos e como já aconteceu outras vezes, sempre acaba em confusão, seguida de longa pausa nos negócios entre eles. Também é fato que sempre voltaram às pazes, pois brandos e pele-vermelhas sempre tiveram uma relação de dependência mediada e fomentada pelo dinheiro. Dinheiro que incentivou o índio a ter mais preguiça.

Para fechar, Centro do Guilherme, apesar de ter uma cultura de pecuária forte, não têm perspectivas de produção de outra coisa pois até as roças que foram a identidade deste povo durante tanto tempo, mas que está sendo esquecida, graças à programas sociais do governo e à corridas da madeiro e dos garimpos ilegais.

Até existe uma pequena reserva, que pela pressão financeira pode até não existir mais, na Quadra 45 (norte) pertencente à família do ex-vereador Valdemar Cipó, administrada por seu filho Nelson. A mesma vem desde muito tempo tentando legalizar a extração, mas a burocracia brasileira é lenta e cara. Talvez esteja aí a culpa pelos erros cometidos nesta região em relação ao meio ambiente e as consequências desastrosas dos conflitos.